"As coisas
assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do
sagrado. Absolutas estrelas".*
Saí lá fora e caminhei lentamente, a esmo. As damas da noite
me assediando e me envolvendo. Olhei-me nos olhos e refleti, no espelho de minha alma, o sentido de tudo em movimento. Na
mistura de circunstâncias que é a vida, fui ingênuo, romântico... Talvez
dramático também.
Lentamente, evaporou de minha mente todas as tristezas, males e frustrações que sombreavam meus dias.
Tudo junto, me abandonando. O ar quente da noite, se tornando fresco. Incompreensão
se convertendo em compreensão. Cegos enxergando e aleijados correndo felizes pelas
ruas. Portas se abriram e, delas, os mortos ressurgiram. Com um grande salto
comecei a voar. Enquanto isso, meus cabelos ondulavam sob uma leve brisa e as
damas da noite, inquietas, me afagando o coração.
Abri os olhos e virei-me para a janela semiaberta. Um vento
suave inundava a madrugada daquele quarto. Virei-me e aguardei novamente o
sonho. Não veio...
*João Guimarães Rosa
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