Ontem assisti novamente ao documentário “Francisco Sánchez”. Nele, o Francisco, que na verdade conhecemos como Paco de Lucía, se encontra em um aeroporto, com Chick Corea. Depois, já no camarim, eles conversam (pouco) e combinam o encontro no palco.
Fiquei pensando nessa coisa de aeroporto, camarim, palco, interpretação e performance. Todos são locais ou situações transitórias, onde somos levados a criar rotas, metas, estabelecer caminhos e, ao mesmo tempo, aceitar o inesperado.
Assim eu vejo a vida. Imprevisível. Principalmente a de músico. Todos vão tecendo e desenvolvendo o argumento de suas músicas e combinando novos encontros e sonhos que talvez não se concretizem. Tudo conduzido pela criatividade e poder de improvisar, ressignificar. A grande viagem, com reserva garantida ao nascer, mesmo não sabendo qual o destino, ou se há um destino, fazemos sozinhos.
Ao saber da morte de Chick Corea, repassei alguns álbuns. Principalmente os que mais gosto: Akoustic Band e Three Quartets. Fiquei pensando no fenômeno que é o “ajuntar notas” e transformá-las em melodias, harmonias e ritmo. De onde vêm. Quantos anos de estudo, disciplina, organização e, para alguns, evolução pessoal. E a vida passando...
Enquanto a vida passa eu penso no quanto foi bom poder ouvir e estudar Chick Corea, Bill Evans, Oscar Peterson, Luiz Eça... A partida é triste, mas as notas “ajuntadas” por eles ficam. E nos ensinam que há um lugar onde teremos que buscá-las para cultivar e regar nosso desejo de fazer música. Basta nos entregarmos para, talvez, encontrarmos essa trilha.