sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Chick Corea - A partida...

Ontem assisti novamente ao documentário “Francisco Sánchez”. Nele, o Francisco, que na verdade conhecemos como Paco de Lucía, se encontra em um aeroporto, com Chick Corea. Depois, já no camarim, eles conversam (pouco) e combinam o encontro no palco. 

Fiquei pensando nessa coisa de aeroporto, camarim, palco, interpretação e performance. Todos são locais ou situações transitórias, onde somos levados a criar rotas, metas, estabelecer caminhos e, ao mesmo tempo, aceitar o inesperado.

Assim eu vejo a vida. Imprevisível. Principalmente a de músico. Todos vão tecendo e desenvolvendo o argumento de suas músicas e combinando novos encontros e sonhos que talvez não se concretizem. Tudo conduzido pela criatividade e poder de improvisar, ressignificar. A grande viagem, com reserva garantida ao nascer, mesmo não sabendo qual o destino, ou se há um destino, fazemos sozinhos. 

Ao saber da morte de Chick Corea, repassei alguns álbuns. Principalmente os que mais gosto: Akoustic Band e Three Quartets. Fiquei pensando no fenômeno que é o “ajuntar notas” e transformá-las em melodias, harmonias e ritmo. De onde vêm. Quantos anos de estudo, disciplina, organização e, para alguns, evolução pessoal. E a vida passando... 

Enquanto a vida passa eu penso no quanto foi bom poder ouvir e estudar Chick Corea, Bill Evans, Oscar Peterson, Luiz Eça... A partida é triste, mas as notas “ajuntadas” por eles ficam. E nos ensinam que há um lugar onde teremos que buscá-las para cultivar e regar nosso desejo de fazer música. Basta nos entregarmos para, talvez, encontrarmos essa trilha.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera

Há alguns anos, ao lado de Fernando Brant, comecei a visitar os videoclubes que começavam a fechar suas portas com a grande mudança do produto físico (DVD e Blue Ray) para as plataformas de streaming. Comprávamos todos os filmes raros.

Filmes para serem sentidos, experimentados...

As estações do ano formam um ciclo muito instigante na vida. Eu espero ansiosamente a primavera, minha preferida. Sofro um pouco no calor do verão, suporto bem o outono e, com esperança, passo pelo inverno. Em todas essas fases, vou sentido as mudanças, às vezes difíceis, que na verdade são etapas de crescimento, de adaptação e readaptação. Aprendemos a conviver, ao longo da vida, com os desejos não realizados, as dificuldades, amores frustrados e a busca do perdão junto com a capacidade de perdoar. Inclusive, a nós mesmos. Como as estações do ano, os períodos do dia e outros movimentos cíclicos da vida, vamos nos aprimorando na difícil arte de viver. Mas o mundo não para. Tudo segue mudando, nos conduzindo, nos testando e nos levando ao aprimoramento. Assim é o filme “Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera”. Se tiverem a sorte de encontrar, não tenham dúvidas. Assistam. É um lindo filme dirigido por Kim Ki-duk, morto em dezembro de 2020, aos 59 anos, vítima de Covid-19.