quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Arte e vida em sociedade

Noite sem sono. Na madrugada os problemas ganham outra dimensão. Tornam-se maiores. Enquanto o pensamento briga com o corpo inquieto, penso em nossa condição atual. Na arte, na vida... Como em minha mente eu posso questionar tudo sem ser censurado, imagino o quanto nosso país é inculto. Na acepção dessa palavra, mal cuidado.

Nos últimos meses, quanta vergonha tenho sentido em reuniões com autores estrangeiros, quando abordam o caráter e a honestidade dos políticos brasileiros. Eu, sempre argumentando e questionando todos pela ótica  da legitimidade da correção pessoal. Da dignidade individual. Da índole.

O que mais me atemoriza em todos esses aspectos medonhos que vivemos, é a hipocrisia. Também e principalmente, da sociedade. Das organizações e grupos que promovem o conservadorismo e, ao mesmo tempo, não se assustam com a massificação que assola o país por meio do condicionamento de ideias, tendências e exposição de uma pseudo realidade.
Onde o ter, em todos os níveis, se impõe ao saber ou à busca de conhecimento e respeito à diversidade. Ter razão, ter prestígio, se impor, mesmo que seja pela falsa sabedoria e pelo prazer da discussão não levada à prática e busca de melhorias para a vida...

Palavras que escorrem como vômitos incontidos. Nos levando, cada vez mais, à solidão.
Nos escondendo atrás de  falsos ídolos, conceitos, moralismos e deixando a vida lá de fora nos engolir com suas promessas que escondem uma gana de exploração da condição humana. Falsas realizações. Quando o nosso protagonismo ultrapassa o sentido da vida.

E o sono não vem. Claro. Em meio a esse caos do pensamento...

Penso que a arte sempre foi a interrogação dos tempos. Documentou a história da humanidade por meio da pintura, da música, arquitetura, dança, literatura, poesia... De todas as suas vertentes. Quando o criador, percebendo o mundo, retrata e extravasa sua inquietude por meio de sua criação.

Um breve cochilo no tempo...

Desperto novamente e, inquieto, me lembro do episódio de uma exposição de arte interrompida recentemente. Vencido pela falta de sono pesquiso um pouco sobre o tema e encontro a nota de cancelamento, emitida pelo órgão responsável e divulgada pela imprensa. Em determinado trecho dizem: “Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.”
Em todas as manifestações contrárias às obras expostas, percebi a arte como instrumento de reflexão positiva sobre os seres que habitam nossa contemporaneidade. Nossa sociedade. O medo de símbolos em contraste com a hipocrisia... Nosso reflexo no espelho. Me vem a dúvida: será que entendi tudo errado desde o começo de meus estudos de música, cinema e arte em geral? Lembrei-me de um disco antigo que gravei, onde escrevi:

“Quando penso na forma como me envolvi com a música, me volta à memória a minha infância, quando, aos sete anos de idade, adormeci para a realidade do dia a dia e despertei em um sonho de magia e de sons. De lá para cá, entre acordos e desacordos, às vezes volto a essa “realidade”. Como não me encontro, novamente retorno ao sono profundo e encantador que é a música.”

Perdi a hora...

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