Lembro-me da primeira vez em que vi, na porta de um teatro,
um cartaz anunciando meu show. Aquela simples exposição me fez sentir que eu
era um personagem na cena musical de Belo Horizonte. Jovem, imaturo e
idealista, pensava na possibilidade da projeção de um trabalho tecido no sonho
e no dia a dia dos estudos. Com o passar dos anos veio a consciência empresarial,
necessária, de uma profissão chamada de “sagrada”, porém massacrada pelo conservadorismo
piegas das mentes “cuidadosamente incultas” - ou explícitas - que conduzem a
política no Brasil. Atualmente, projeção da maledicência e obscurantismo de
governantes, onde os dogmas prevalecem à dignidade do bem viver e aos direitos dos
cidadãos, equilibrados com os deveres. Uma falsa virtude muito apreciada nos
tempos atuais, que disfarça e deixa transbordar as garras bestiais da Fera
(ódio, rancor, preconceito, indiferença), mutilando e condenando a Bela (natureza,
respeito, solidariedade, diferenças de credos... O Planeta).
Conversando com um amigo norte-americano, também compositor e
instrumentista, eu falava da força econômica do cinema em seu país e da
Indústria Cultural e Criativa brasileira que, hoje, é responsável por uma infinita
rede de empregos diretos e indiretos, gerando renda e fazendo circular milhões
de reais em todo o país*. Atraindo turistas de todo o mundo e cultivando uma
identidade nacional marcada pela pluralidade, onde a miscigenação de raças, com
suas crenças religiosas multifacetadas, lidera, com pioneirismo, a
independência do aval de forças corporativas multinacionais, destrutivas, que
rondam o quintal de nossa terra e de nossa arte brasileira.
Ele, se divertindo, me pergunta se estou comparando
os outros países a hienas. Respondo com sinceridade que não. Os artistas,
compositores e autores, no mundo todo, estão unidos em associações e alianças e
nos apoiam a uma só voz. Imunes ao preconceito. Respeitando os direitos de
todos e rendendo graças à qualidade de nossa música, cinema e arte em geral.
Entrando em seu jogo, também sorrio e acrescento:
mas que há hienas, “las hay”. Estão infiltradas, atualmente, nos frustrantes
cargos administrativos de setores governamentais da cultura no Brasil, por sua
insignificância artística e criativa. Diante de um vasto mar, porém
acorrentadas ao porto inseguro da ignorância que ofusca sua visão. O mais
perturbador possível: posso ver o seu riso de escárnio.
*Dados da UNESCO em pesquisa realizada em 2015 em parceria
com a Cisac (Confederação Internacional das Sociedades de Autores e
Compositores).
Nenhum comentário:
Postar um comentário