quarta-feira, 7 de abril de 2021

Fragmentos...

“E o garoto viu uma rosa no meio do gramado brotando com toda a sua inocência. Tudo lhe foi revelado...”.*

Alguns associam a imagem que surgiu no céu durante a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, com uma rosa. Pena o desabrochar fatal, levando almas, sonhos e extinguindo vidas de crianças, adultos e idosos... No filme “Rapsódia em agosto” (Japão -1991) de Akira Kurosawa, a simbologia se apresenta como um olho vermelho, evocando, provavelmente, uma questão que envolve o aspecto existencial da cultura desse país. 

A cruel mutilação da essência dos seres - vida, buscas, cultura e crenças – e a destruição do que chamamos cotidiano, a morte de nossa realidade, jamais poderemos admitir. O avançar da tradição, da pureza nas relações com a natureza e dos seres que nos rodeiam têm que ser preservados.


Na tentativa de acordos de paz e compreensão entre os povos, encontraremos, em uma fileira de formigas indo em direção a uma rosa escarlate, a construção das boas e verdadeiras relações humanas, quando percebemos que é possível um entendimento sem esquecer o passado, mas mudando o rumo da história e reacendendo a chama da construção do presente, fortalecendo a crença no futuro.

Kane, a protagonista de “Rapsódia em agosto” é uma personagem leve, simples e, como todos aqueles que viveram uma catástrofe, sábia. Podemos perder tudo que nos cerca, desde que sobreviva aquilo que povoa o mais íntimo de nosso ser, que dá sentido à nossa luta em busca da solução para nossa angústia existencial... Assistam. Simples e profundo.

P.S. Sempre que volto a esse filme, impossível não me lembrar de “Cidadão Kane” de Orson Welles. A busca da sobreposição pelo poder e imposição, enquanto vivemos a decadência do espírito e da convivência. O poder perturba. A essência sobrevive: Rosebud. Segundo o diretor, uma “...história de fracasso”.

 

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