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“Dia Internacional da Mulher”

Com minha mãe, um misto de sabedoria, delicadeza e força, eu consigo falar de coisas sérias, brincando. Sempre que não quer discutir, por considerar o tema desnecessário ou infundado, ela simplesmente responde: “Entendi”. Isso quer dizer ponto final. Minha doce e linda mulher, dona de um silêncio perturbador quando em desacordo com minhas ideias, me mostra o resplendor de “todas as manhãs do mundo”, com seus olhos negros  que despertam, em mim, os dias que eu não vivi. Que talvez tenha vislumbrado. “Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer” * Nesse “Dia Internacional da Mulher”, penso no quanto minha vida foi envolvida e conduzida por mulheres que me ensinaram tanto. Minha irmã, cunhadas, sobrinhas, amigas... Todo o significado que permeia esse dia, marcado por muitos eventos mundiais que levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a reconhecer a importância dessa data, me leva a crer que um dia poderemos nos redimir das ridículas atrocidades cometidas ao longo de nos...

Alegorias - No tempo em que as pessoas usavam máscaras

De repente a obscuridade tomou conta do mundo. Os valores representados por conceitos familiares, sociais, religiosos e políticos, se sentiram aprisionados na caverna da hipocrisia.  As várias faces se mostrando e nós, com melindre, valorizando mais a matéria e o argumento, que a essência do conhecimento. Pontos, palavras, símbolos e inconsciente coletivo se materializando, criando grupos e dando asas a todo tipo de preconceito e posicionamento radical.  Mesmo sob alerta o mundo, aos poucos, está se transformando em Babel. A língua dos homens se confundindo e criando falsas metáforas em benefício de ideias que corroborem seu pensamento. Nada como uma crise mundial que nos aprisione e nos coloque em uma “camisa de força”. Condição que somente nos permite recostar em duas paredes opostas. Um lado – outro lado.  As máscaras confundindo o verdadeiro “Eu” de cada um e o caos da informação e do desconhecimento se transformando em bandeiras, atendendo à conveniência de cada indi...

Das cavernas

Cansado, com os olhos fixos em um celular, acompanho as atrocidades espalhadas pelo mundo mescladas com manifestos de felicidade, realizações, misticismo, sucesso e também muito rancor. Alguns casos são chamados de Fake News, embora eu queira que tudo seja verdadeiro e me mostre a face real de nossa raça nesses tempos que vivemos. Em vão…   Discussões quilométricas mostrando a escuridão do caminho que teremos que  transpor para chegarmos a algum lugar. Sempre gostei de viajar sem reservas de hotel, preferencialmente de carro, parando em pequenos vilarejos, cidades e correndo o risco do acaso. Mas, hoje, cansado, olhando o mundo na tela de um celular, não consigo esquecer o poema de Hermann Hesse, “Neblina”*. Mas… Tudo bem. Como me disse um sábio mexicano: “Es lo que tenemos”. Esse é o meu mundo.    Meus olhos ardem... Tento desligar tudo, inclusive eu mesmo. Relutante, lutando contra o medo de sair do mundo, decido caminhar um pouco pela rua.    Meus o...

O galo ganhou!!

Uma chuvinha fria me molhando os cabelos e me lembrando da infância destemida, no embate com os acontecimentos desnaturados. Quando a condição que o menino impunha naqueles quintais (em minha cabeça, florestas), era chamada de “necessidade de crescer e tomar juízo”… Não gosto muito dos dias atuais. São previsíveis. Quando nos levam à improvisação, nos forçam à presunção de estarmos fazendo algo excepcional. Com isso, corremos o risco de nos tornar um avatar, como diríamos em informática. Agora, nessa chuvinha, caminhando por uma “floresta” que, hoje, chamo de quintal, tento decifrar os sons dos bichos e da natureza, associando-os à nossa fala. (Não é coisa de maluco não. Apenas loucura divertida e controlada).  Sobre uma base orquestral formada pelo vento, grilos e pássaros, ouço, repentinamente, um galo, provavelmente idoso, provocador, dizendo com sua voz rouca, porém forte:  -          O galo ganhou! - Um garnizé retruca: -  ...

Dia frio

Um homem só. Uma rua deserta e fria. Sentado, enroscado em seu próprio corpo. Taciturno.* Um insano e equivocado arrepio me fazendo mudar a direção. No caminho, levando impressões. Distância e valentia permitindo o olhar direto. Posição de vênia mirando o centro da terra… Indisposição. Ânsia de vômito. Um trago, água. Talvez não o veja mais… Só um homem. Me esperam. Elas me esperam… Lá fora, triste. Aqui, quietude e esperança. Venceremos… *Experiências de rua.

Fragmentos...

“E o garoto viu uma rosa no meio do gramado brotando com toda a sua inocência. Tudo lhe foi revelado...”.* Alguns associam a imagem que surgiu no céu durante a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, com uma rosa. Pena o desabrochar fatal, levando almas, sonhos e extinguindo vidas de crianças, adultos e idosos... No filme “Rapsódia em agosto” (Japão -1991) de Akira Kurosawa, a simbologia se apresenta como um olho vermelho, evocando, provavelmente, uma questão que envolve o aspecto existencial da cultura desse país.  A cruel mutilação da essência dos seres - vida, buscas, cultura e crenças – e a destruição do que chamamos cotidiano, a morte de nossa realidade, jamais poderemos admitir. O avançar da tradição, da pureza nas relações com a natureza e dos seres que nos rodeiam têm que ser preservados. Na tentativa de acordos de paz e compreensão entre os povos, encontraremos, em uma fileira de formigas indo em direção a uma rosa escarlate, a construção das boas e verdadeiras ...

Plano Geral - Entrevista com José Tavares de Barros

Profundo conhecedor da linguagem cinematográfica, o Professor José Tavares de Barros fala com sensibilidade, de forma espontânea, de sua visão sobre o cinema atual. Com sabedoria ele nos conduz à compreensão da importância da emoção e abordagem do mistério da vida e espiritualidade no cinema, para a realização de um bom filme. GV – Com características próprias de estilo e circunstâncias de época, marcaram a história do cinema, movimentos como a Nouvelle Vague, o Neo-realismo italiano, o Cinema Novo… Existe, no cinema brasileiro atual, alguma característica particular, que vá marcar esta época? JTB – Não entendo que existam atualmente tendências específicas no cinema brasileiro, como ocorreu com a Nouvelle Vague e com o próprio Cinema Novo. Desde a retomada, em 1990, há uma diversidade heterogênea de temáticas, enfoques e estilos, além de reincidente relação ambígua com o público. Há categorias evidentes, como a do cinema comercial – nem sempre com êxito – e um cinema independente com t...