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Música - Uma trajetória latino-americana

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Brasil e Uruguai A miscigenação de raças, com seus variados elementos culturais e artísticos, proveniente da Europa e da África, aliados à cultura indígena, são fatores muito importantes para a observação e estudo da cultura artística, principalmente musical, na América Latina. Cada país com sua particularidade, tem, em sua música regional, uma identidade própria que dá suporte para os avanços de novos expoentes. Que surgem com propostas avançadas e ideias inovadoras, tendo como base a essência de sua cultura, fruto de uma evolução natural. Mesmo com todos os avanços dos últimos anos, no campo da tecnologia, quando se esperava um entendimento mundial e melhoria de vida para os cidadãos do mundo, somos forçados a admitir que muito se ganhou com o encurtamento das distâncias, pela facilidade de acesso e disponibilidade de informações, mas que também, em alguns aspectos, muito se perdeu.   Entre o Brasil e o Uruguai, por exemplo, houve um período de grande identificação, talvez ...

O abismo das ilusões e a inteligência artificial

Cada período traz consigo seus riscos, medos e demandas. O monstro do momento é a chamada inteligência artificial (IA). Muito tem sido discutido e pouco avançado na compreensão do que poderá ser a atuação da IA no dia a dia dos autores e na vida dos profissionais de várias áreas. Fala-se muito sobre suas proezas nas artes, principalmente, valorizando suas possibilidades de imitação e coordenação de ideias. Esses temas têm levantado discussões acaloradas. Quase todas embasadas pelo medo do domínio dessa tecnologia. Já temos alguns profetas de plantão vendendo suas ideias com discursos apocalípticos e espalhando o medo e terror à nossa volta. Verdadeiros negociantes detentores de “bolas de cristal”.   Seja na ordem econômica ou criativa, esse velho/novo conceito de IA tem atormentado várias áreas que se desdobram para entender e explicar formas de lidar com um fenômeno que por sua vastidão, magnetismo e falta de legislação, principalmente, tem ameaçado muito o ambiente artístico. O m...

“Dia Internacional da Mulher”

Com minha mãe, um misto de sabedoria, delicadeza e força, eu consigo falar de coisas sérias, brincando. Sempre que não quer discutir, por considerar o tema desnecessário ou infundado, ela simplesmente responde: “Entendi”. Isso quer dizer ponto final. Minha doce e linda mulher, dona de um silêncio perturbador quando em desacordo com minhas ideias, me mostra o resplendor de “todas as manhãs do mundo”, com seus olhos negros  que despertam, em mim, os dias que eu não vivi. Que talvez tenha vislumbrado. “Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer” * Nesse “Dia Internacional da Mulher”, penso no quanto minha vida foi envolvida e conduzida por mulheres que me ensinaram tanto. Minha irmã, cunhadas, sobrinhas, amigas... Todo o significado que permeia esse dia, marcado por muitos eventos mundiais que levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a reconhecer a importância dessa data, me leva a crer que um dia poderemos nos redimir das ridículas atrocidades cometidas ao longo de nos...

Alegorias - No tempo em que as pessoas usavam máscaras

De repente a obscuridade tomou conta do mundo. Os valores representados por conceitos familiares, sociais, religiosos e políticos, se sentiram aprisionados na caverna da hipocrisia.  As várias faces se mostrando e nós, com melindre, valorizando mais a matéria e o argumento, que a essência do conhecimento. Pontos, palavras, símbolos e inconsciente coletivo se materializando, criando grupos e dando asas a todo tipo de preconceito e posicionamento radical.  Mesmo sob alerta o mundo, aos poucos, está se transformando em Babel. A língua dos homens se confundindo e criando falsas metáforas em benefício de ideias que corroborem seu pensamento. Nada como uma crise mundial que nos aprisione e nos coloque em uma “camisa de força”. Condição que somente nos permite recostar em duas paredes opostas. Um lado – outro lado.  As máscaras confundindo o verdadeiro “Eu” de cada um e o caos da informação e do desconhecimento se transformando em bandeiras, atendendo à conveniência de cada indi...

Das cavernas

Cansado, com os olhos fixos em um celular, acompanho as atrocidades espalhadas pelo mundo mescladas com manifestos de felicidade, realizações, misticismo, sucesso e também muito rancor. Alguns casos são chamados de Fake News, embora eu queira que tudo seja verdadeiro e me mostre a face real de nossa raça nesses tempos que vivemos. Em vão…   Discussões quilométricas mostrando a escuridão do caminho que teremos que  transpor para chegarmos a algum lugar. Sempre gostei de viajar sem reservas de hotel, preferencialmente de carro, parando em pequenos vilarejos, cidades e correndo o risco do acaso. Mas, hoje, cansado, olhando o mundo na tela de um celular, não consigo esquecer o poema de Hermann Hesse, “Neblina”*. Mas… Tudo bem. Como me disse um sábio mexicano: “Es lo que tenemos”. Esse é o meu mundo.    Meus olhos ardem... Tento desligar tudo, inclusive eu mesmo. Relutante, lutando contra o medo de sair do mundo, decido caminhar um pouco pela rua.    Meus o...

O galo ganhou!!

Uma chuvinha fria me molhando os cabelos e me lembrando da infância destemida, no embate com os acontecimentos desnaturados. Quando a condição que o menino impunha naqueles quintais (em minha cabeça, florestas), era chamada de “necessidade de crescer e tomar juízo”… Não gosto muito dos dias atuais. São previsíveis. Quando nos levam à improvisação, nos forçam à presunção de estarmos fazendo algo excepcional. Com isso, corremos o risco de nos tornar um avatar, como diríamos em informática. Agora, nessa chuvinha, caminhando por uma “floresta” que, hoje, chamo de quintal, tento decifrar os sons dos bichos e da natureza, associando-os à nossa fala. (Não é coisa de maluco não. Apenas loucura divertida e controlada).  Sobre uma base orquestral formada pelo vento, grilos e pássaros, ouço, repentinamente, um galo, provavelmente idoso, provocador, dizendo com sua voz rouca, porém forte:  -          O galo ganhou! - Um garnizé retruca: -  ...

Dia frio

Um homem só. Uma rua deserta e fria. Sentado, enroscado em seu próprio corpo. Taciturno.* Um insano e equivocado arrepio me fazendo mudar a direção. No caminho, levando impressões. Distância e valentia permitindo o olhar direto. Posição de vênia mirando o centro da terra… Indisposição. Ânsia de vômito. Um trago, água. Talvez não o veja mais… Só um homem. Me esperam. Elas me esperam… Lá fora, triste. Aqui, quietude e esperança. Venceremos… *Experiências de rua.

Fragmentos...

“E o garoto viu uma rosa no meio do gramado brotando com toda a sua inocência. Tudo lhe foi revelado...”.* Alguns associam a imagem que surgiu no céu durante a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, com uma rosa. Pena o desabrochar fatal, levando almas, sonhos e extinguindo vidas de crianças, adultos e idosos... No filme “Rapsódia em agosto” (Japão -1991) de Akira Kurosawa, a simbologia se apresenta como um olho vermelho, evocando, provavelmente, uma questão que envolve o aspecto existencial da cultura desse país.  A cruel mutilação da essência dos seres - vida, buscas, cultura e crenças – e a destruição do que chamamos cotidiano, a morte de nossa realidade, jamais poderemos admitir. O avançar da tradição, da pureza nas relações com a natureza e dos seres que nos rodeiam têm que ser preservados. Na tentativa de acordos de paz e compreensão entre os povos, encontraremos, em uma fileira de formigas indo em direção a uma rosa escarlate, a construção das boas e verdadeiras ...

Plano Geral - Entrevista com José Tavares de Barros

Profundo conhecedor da linguagem cinematográfica, o Professor José Tavares de Barros fala com sensibilidade, de forma espontânea, de sua visão sobre o cinema atual. Com sabedoria ele nos conduz à compreensão da importância da emoção e abordagem do mistério da vida e espiritualidade no cinema, para a realização de um bom filme. GV – Com características próprias de estilo e circunstâncias de época, marcaram a história do cinema, movimentos como a Nouvelle Vague, o Neo-realismo italiano, o Cinema Novo… Existe, no cinema brasileiro atual, alguma característica particular, que vá marcar esta época? JTB – Não entendo que existam atualmente tendências específicas no cinema brasileiro, como ocorreu com a Nouvelle Vague e com o próprio Cinema Novo. Desde a retomada, em 1990, há uma diversidade heterogênea de temáticas, enfoques e estilos, além de reincidente relação ambígua com o público. Há categorias evidentes, como a do cinema comercial – nem sempre com êxito – e um cinema independente com t...

Mulher

Eu poderia escrever muitas palavras bonitas, suaves e poéticas. Mas o medo da redundância me impede.   As datas me confundem. Criam marcas, quase sempre sem associa-las às atitudes.  Meu desejo de paz, respeito, delicadeza e realizações na vida é dirigido a todas as mulheres que conheço: minha mãe, irmã, sobrinhas, cunhadas, amigas... Todas as mulheres que passaram por minha vida e também para aquelas que não conheci. Que seguem o mesmo curso nessa trajetória e luta pela igualdade humana. Como uma senhora que vi, hoje, em uma rua de Belo Horizonte. Com sulcos profundos causados pelas rugas em seu rosto e olhar apático, afogado no alcoolismo, escondendo sua idade, sua história, suas vaidades e sonhos. Que a vida seja melhor para todas as mulheres. Vamos comemorar, lutar e exigir direitos. A vida é bonita e pode ser florida!

Chick Corea - A partida...

Ontem assisti novamente ao documentário “Francisco Sánchez”. Nele, o Francisco, que na verdade conhecemos como Paco de Lucía, se encontra em um aeroporto, com Chick Corea. Depois, já no camarim, eles conversam (pouco) e combinam o encontro no palco.   Fiquei pensando nessa coisa de aeroporto, camarim, palco, interpretação e performance. Todos são locais ou situações transitórias, onde somos levados a criar rotas, metas, estabelecer caminhos e, ao mesmo tempo, aceitar o inesperado. Assim eu vejo a vida. Imprevisível. Principalmente a de músico. Todos vão tecendo e desenvolvendo o argumento de suas músicas e combinando novos encontros e sonhos que talvez não se concretizem. Tudo conduzido pela criatividade e poder de improvisar, ressignificar. A grande viagem, com reserva garantida ao nascer, mesmo não sabendo qual o destino, ou se há um destino, fazemos sozinhos.  Ao saber da morte de Chick Corea, repassei alguns álbuns. Principalmente os que mais gosto: Akoustic Band e Three Q...

Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera

Há alguns anos, ao lado de Fernando Brant, comecei a visitar os videoclubes que começavam a fechar suas portas com a grande mudança do produto físico (DVD e Blue Ray) para as plataformas de streaming. Comprávamos todos os filmes raros. Filmes para serem sentidos, experimentados... As estações do ano formam um ciclo muito instigante na vida. Eu espero ansiosamente a primavera, minha preferida. Sofro um pouco no calor do verão, suporto bem o outono e, com esperança, passo pelo inverno. Em todas essas fases, vou sentido as mudanças, às vezes difíceis, que na verdade são etapas de crescimento, de adaptação e readaptação. Aprendemos a conviver, ao longo da vida, com os desejos não realizados, as dificuldades, amores frustrados e a busca do perdão junto com a capacidade de perdoar. Inclusive, a nós mesmos. Como as estações do ano, os períodos do dia e outros movimentos cíclicos da vida, vamos nos aprimorando na difícil arte de viver. Mas o mundo não para. Tudo segu...

Esperança

Muitos partiram. Pessoas próximas que amamos e pessoas que, talvez, jamais encontrássemos. Sabemos que cada ser tem um papel a cumprir nesse mundo e que a melhor forma de desempenha-lo continua sendo a solidariedade e o respeito a todos aqueles com quem cruzamos.     A maior comemoração na chegada do novo ano tem de ser a fé na vida e nos seres de boa vontade que, juntos de nós, seguem por esse caminho...   Em Santa Efigênia (bairro de Belo Horizonte), um morador de rua, talvez chamado de louco, me assusta no sinal ao gritar com todas as forças: “Mas Ele disse para amarmos uns aos outros...”. Uma chuvinha fina me faz fechar o vidro do carro... Sinal verde.    Sim, Ele disse. Paz em 2021!

Reflexões sobre o riso, o sorriso e a dor*

Após tanta massificação e influência de ideias herdadas do século passado e em atividade nos tempos atuais, não toleramos mais a velha postura chamada autenticidade. Talvez essa “qualidade” seja a maior mentira e ilusão do ser humano nos últimos tempos. Poderíamos dizer, ironicamente, que a autenticidade congela o sentimento, as reações espontâneas e tenta eleger regras para posicionamentos que justifiquem as atitudes - ou a falta delas. Alguns dizem que é melhor rir daquilo que fizemos e nos arrependemos. Ou: “é melhor rir do que chorar – viver a vida com leveza”. Sempre penso no motivo do riso em nossa vida. O choro seria o lado avesso do riso? Não sei. Às vezes acho os dois tão semelhantes... Um deles regado por lágrimas. Historicamente há tanta polêmica sobre o riso, que isso forçou o sorriso a separar-se da graça. Antes, uma namorada em sinal de aceitação, após um flerte, sorria - ria sem ruído -. O bebê sorri. Demonstra compreensão dos desejos alheios de contentamento. A menina e...

O palco

Existe nele uma solidão amparada por várias pessoas que nos observam com olhares atentos, envolvidos por uma aura de prazer. Existe nele uma cumplicidade que transcende os limites da amizade e do querer que tudo dê certo. No palco e na plateia, todos buscam a realização plena.  Uma troca de energia... Ali, quando há um grande acerto, os olhares aprovadores são solidários e estampados em sorrisos ternos. Quando ocorrem pequenos deslizes, os mesmos olhares sorriem esperançosos, nos levando à crença de que é possível melhorar sempre. Que existem erros quando buscamos ser melhores. Nos momentos em que a energia da música extravasa o fazer, explodindo em grandes feitos musicais, uma onda de alegria e até mesmo de riso invade o palco e a plateia, levando-nos a uma catarse coletiva de purificação. Quando a emoção atinge seu extremo, em notas e acordes, e nos desperta da vida para o sonho, irrompe um turbilhão de aplausos. Aí, meus amigos, resta apenas crer que o sonho e a realidade s...

Cultura – Um “trem” descarrilhado

Enquanto dados dos últimos anos apontam para a importância e crescimento das Indústrias Criativas e Culturais para a economia, gerando milhões de empregos diretos e indiretos em todo o mundo, principalmente no Brasil, assistimos ao espetáculo de um trem descarrilhado nos levando ao abismo cultural. Se olharmos para a cadeia produtiva em Minas Gerais, veremos técnicos, estúdios, músicos, produtores e tantos outros representantes da área cultural com passagens pagas, em primeira classe, pelos órgãos político/culturais, embarcando, nos últimos anos, na “Barca do Inferno” com destino ao desprezo desses mesmos órgãos (in)competentes. Se recorrermos aos números e estudos comparativos, certificaremos uma queda de aproximadamente 60% nos valores operados nos últimos vinte anos no setor musical independente. Nesse ínterim assistimos à burocratização das leis de incentivo fiscal nas esferas municipal, estadual e, recentemente, o desmonte da lei federal, além de grande desestímulo da classe empre...