quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Arte e vida em sociedade

Noite sem sono. Na madrugada os problemas ganham outra dimensão. Tornam-se maiores. Enquanto o pensamento briga com o corpo inquieto, penso em nossa condição atual. Na arte, na vida... Como em minha mente eu posso questionar tudo sem ser censurado, imagino o quanto nosso país é inculto. Na acepção dessa palavra, mal cuidado.

Nos últimos meses, quanta vergonha tenho sentido em reuniões com autores estrangeiros, quando abordam o caráter e a honestidade dos políticos brasileiros. Eu, sempre argumentando e questionando todos pela ótica  da legitimidade da correção pessoal. Da dignidade individual. Da índole.

O que mais me atemoriza em todos esses aspectos medonhos que vivemos, é a hipocrisia. Também e principalmente, da sociedade. Das organizações e grupos que promovem o conservadorismo e, ao mesmo tempo, não se assustam com a massificação que assola o país por meio do condicionamento de ideias, tendências e exposição de uma pseudo realidade.
Onde o ter, em todos os níveis, se impõe ao saber ou à busca de conhecimento e respeito à diversidade. Ter razão, ter prestígio, se impor, mesmo que seja pela falsa sabedoria e pelo prazer da discussão não levada à prática e busca de melhorias para a vida...

Palavras que escorrem como vômitos incontidos. Nos levando, cada vez mais, à solidão.
Nos escondendo atrás de  falsos ídolos, conceitos, moralismos e deixando a vida lá de fora nos engolir com suas promessas que escondem uma gana de exploração da condição humana. Falsas realizações. Quando o nosso protagonismo ultrapassa o sentido da vida.

E o sono não vem. Claro. Em meio a esse caos do pensamento...

Penso que a arte sempre foi a interrogação dos tempos. Documentou a história da humanidade por meio da pintura, da música, arquitetura, dança, literatura, poesia... De todas as suas vertentes. Quando o criador, percebendo o mundo, retrata e extravasa sua inquietude por meio de sua criação.

Um breve cochilo no tempo...

Desperto novamente e, inquieto, me lembro do episódio de uma exposição de arte interrompida recentemente. Vencido pela falta de sono pesquiso um pouco sobre o tema e encontro a nota de cancelamento, emitida pelo órgão responsável e divulgada pela imprensa. Em determinado trecho dizem: “Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.”
Em todas as manifestações contrárias às obras expostas, percebi a arte como instrumento de reflexão positiva sobre os seres que habitam nossa contemporaneidade. Nossa sociedade. O medo de símbolos em contraste com a hipocrisia... Nosso reflexo no espelho. Me vem a dúvida: será que entendi tudo errado desde o começo de meus estudos de música, cinema e arte em geral? Lembrei-me de um disco antigo que gravei, onde escrevi:

“Quando penso na forma como me envolvi com a música, me volta à memória a minha infância, quando, aos sete anos de idade, adormeci para a realidade do dia a dia e despertei em um sonho de magia e de sons. De lá para cá, entre acordos e desacordos, às vezes volto a essa “realidade”. Como não me encontro, novamente retorno ao sono profundo e encantador que é a música.”

Perdi a hora...

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Sobre amigos e quintais

O limite territorial era pequeno. Embora fosse de um quarteirão a outro, podia-se avistar com facilidade o eventual trânsito de automóveis na rua de baixo, quando se escalava um pequeno muro que separava o jardim, da chamada rua do meio.

Existiam apenas três ruas, conhecidas como a de cima, a do meio e a de baixo. Meu universo se restringia àquele quintal oculto por uma casa velha situada na rua do meio, que tinha à sua direita lindas flores que cresciam a esmo num jardim forjado pelas mãos da natureza sem nenhuma interferência humana. Ali, pelas mãos do criador, segundo critérios naturais, nasciam e morriam flores do campo, marias-sem-vergonha, rosas, margaridas, antúrios e um desavisado canteiro de cebolinha verde que brotava e, num curto espaço de tempo, sucumbia à força de imensas samambaias e ervas daninhas.

Naquele tempo, eu, aventureiro, desbravava uma grande floresta com seus perigos, levando no peito aberto um sentimento talvez experimentado apenas pelos primeiros bandeirantes que cruzaram nossas terras primitivas. Às vezes improvisava abrigos cobertos com folhas de bananeira e esconderijos sob grandes pés de mamona protegidos por imensas mangueiras. Ali eu tinha, além do abrigo, a munição necessária para combater possíveis invasores, fornecida pela mamoneira.  Tudo ali, naquele território que ia de uma rua à outra.

Quando ao final da tarde, cansado, eu voltava para o aconchego de uma casa tranqüila, aquecida e com seu piso espelhado, passava ao lado de uma porta que levava aos porões escuros e misteriosos que tantas vezes me assombraram. Entre uma breve olhadela e um arrepio na espinha, correndo escada acima, alcançava a entrada da cozinha, de onde vinha um cheiro forte e agradável de tempero, exalado pela carne guardada na gordura. Hipnotizado, corria para a mesa e, a contragosto, atendia à exigência de minha mãe, dirigindo-me à pia para lavar as mãos. Num piscar de olhos, já a postos, deliciava-me com aquela carne gostosa que cuidadosamente eu desfiava. Nestes momentos era tomado por um estado de amnésia, que me fazia esquecer do provedor deste alimento, com o qual eu tanto conversara e por quem lamentara a perda.

À noite, após o banho batizado por minha mãe como “banho de gato”, sonolento, ouvia as histórias lidas por meu pai, das quais nunca conheci o final. Meus olhos pesados se impunham como carga insuportável para minhas pálpebras que, mesmo relutando, cediam entregues à exaustão. Quando finalmente conseguia reerguê-las, já era dia. Lá fora um mundo novo, festejado por pardais e sanhaços me convidava para grandes aventuras na selva. Com a promessa de lutar pelo bem da humanidade tal qual um paladino, e fazer-me merecedor do amor daquela que habitava meus sonhos, com apenas um salto, descia a pequena escada da cozinha e, despreocupadamente, olhava para a entrada do porão. Com toda a valentia de super-herói, com um pontapé, escancarava aquela velha porta e, sorrindo, partia para mais uma aventura.

À minha espera já estavam meus amigos de brincadeiras. Naquele tempo todos nós tínhamos apelido. Havia o Bob, a Pink, o Zulu e a Gabriela, a única a quem chamávamos pelo nome. Não conseguíamos encontrar um apelido que se adequasse à sua delicadeza e brandura. Eu era, às vezes, o Macarrão, por ser muito magro e outras, o Coalhada, por ter a pele muito clara. Mas somente permitia ser tratado assim naquele pequeno círculo, onde me sentia à vontade com meus amigos.

Bob era tranqüilo e solidário. Porém, após planejarmos nossas brincadeiras, participava ativamente. Parecia incansável. Às vezes, mesmo depois de já termos dado cabo dos bandidos, continuava a correr e nos atacar, querendo mais luta. Várias vezes fugi dele, zangado por sua insistência em continuar brincando. Jurava não aceitá-lo mais em nossa turma. Mas quando, no dia seguinte, ele chegava cabisbaixo como quem implora pelo perdão, eu o readmitia. Não sem antes impor condições.

Pink era a menor de todos. Tinha lindos olhos azuis e um andar suave e cambaleante. Parecia frágil, o que fazia com que tivéssemos muito cuidado com ela nas brincadeiras. Não participava das lutas e guerras de mamona. Era protegida por todos, o que a deixava em posição privilegiada.

Zulu era sempre o bandido. Chegara não sei de onde e preenchera uma lacuna importante em nossas brincadeiras. Pequeno e gordo, tinha um andar engraçado. Seus movimentos lentos facilitavam nossas investidas e vitórias. Apesar de ser sempre o perdedor, nunca reclamava ou recusava participar de uma aventura. Às vezes nos jogávamos todos sobre ele numa grande algazarra. Ele, quase sem ar, se reerguia e lançava-se sobre nós. Tornou-se importante sua presença em nosso dia-a-dia.

Gabriela era a mais esperada todos os dias. Sempre muito limpa, com um olhar suave e uma quietude que nos chamava a atenção. Às vezes trazia um laço vermelho  do lado direito da cabeça e quando nos observava, acariciava levemente o queixo. Juntamente com Pink, participava quase sempre como espectadora.

Lembro-me que certa vez planejei invadir uma tribo e tomar posse de seus pertences e território. Bem cedo, convocando a todos, expliquei qual seria o plano. Pink, por ser a menor e mais lenta, atrairia toda a tribo para uma trilha preparada por nós, enquanto Bob e Zulu os despistariam. Gabriela seria poupada. Poderia assistir a tudo para depois nos contar com detalhes toda a batalha. De acordo com o combinado, o inimigo seria levado para as proximidades de nosso esconderijo. Zulu deixar-se-ia capturar e Bob fugiria como se temesse ser pego. Na fuga ele daria uma volta em torno de nossos adversários, surpreendendo-os pela retaguarda. Eu surgiria pela frente, e os atingiria com uma grande saraivada de mamonas.

Tudo planejado, repassamos o plano e nos preparamos para o ataque. Enquanto enchia os bolsos e mãos de mamonas, ouvia gritos e barulho de correria pelo mato. Já preparado, atrás de uma moita num ponto estrategicamente escolhido, aguardava o momento para atirar-me contra todos e, num golpe de misericórdia, vencer e ser aclamado herói e chefe de uma nova tribo.
Em instantes vi Zulu ser agarrado pelos inimigos enquanto Bob corria velozmente em ziguezague, evitando ser alcançado. Já rendido, Zulu tentava em vão se livrar dos golpes desferidos por peles vermelhas furiosos. O número de atacantes era bem maior que o esperado. Era uma tribo de guerreiros maiores. Lançaram-se sobre mim e com pontapés me levaram ao chão. Bob tentou ainda me salvar, mas foi atingido por um soco nas costas. Dominado por um grande ódio, lancei-me sobre o maior deles, que me pareceu ser o chefe. Reagindo e puxando-me pelos cabelos, ele me empurrou sobre algumas toras de madeira apodrecida. Observei que minhas canelas sangravam. Apanhei algumas pedras e atirei-me sobre ele com raiva.

Nesse instante senti minhas orelhas ardendo e assustado voltei-me para trás. Meu pai, aos gritos, me arrastava fazendo-me erguer os pés para acompanhá-lo. Enquanto era conduzido por ele ouvindo fortes reprimendas pude ainda, humilhado, olhar para os inimigos que comemoravam sua vitória e me ironizavam. Diante de tamanho exército meus amigos nada puderam fazer. Lançaram-se em alta velocidade para o interior da selva, cuidando de não deixarem pistas.

Triste, derrotado e com ódio de meu pai, fui ainda submetido a um sermão naquela noite. Mais calmo, ele disse que já era tempo de eu crescer. Que deveria cuidar mais dos estudos, pois não era mais uma criança. Olhando-o fixamente, pensava nos meus amigos que lutaram comigo até o fim. Tentaria encontrá-los no dia seguinte. Enquanto imaginava como seria  minha vingança, fui subitamente interrompido por sua voz forte e elevada. Após uma breve pausa, olhou-me e lentamente falou que a partir do dia seguinte eu teria que trabalhar. Que só poderia me ausentar de casa para ir à escola. Que não permitiria mais minhas idas ao quintal para brincar. Que eu só criava confusões.

Meu mundo desmoronou. Naquela noite tive pesadelos e sonhei que era feito prisioneiro por um grande exército que planejava queimar-me vivo. No dia seguinte acordei com febre. Minha mãe, após me examinar, disse que seria melhor eu continuar na cama. Trouxe-me chá e cuidou para que eu não colocasse os pés no chão. Sentia dores no corpo todo e me lembrava do dia anterior como o pior dia de minha vida. À noite meu pai apareceu e disse que nada mudara. Tão logo eu estivesse melhor iria trabalhar ao seu lado. Que já era adulto. Não podia passar o dia todo envolvido em brincadeiras, procurando encrencas.
Minha cabeça estava confusa. Queria naquele momento estar entre meus amigos explorando aquela selva cheia de segredos onde eu podia livremente criar minha história, construir minhas cavernas e esconderijos.

No dia seguinte, muito cedo, como não havia melhorado, levantei-me e, após tomar o café da manhã, com todo cuidado e silêncio do mundo, pé-ante-pé, tentei descer as escadas da cozinha. Surpreendido por um grito de meu pai, retornei à cama. Dormi o dia todo.
Quando o sol já se tornara pálido, percebendo um grande silêncio em minha casa, levantei-me. Com toda a cautela do mundo abri a porta da cozinha e, quase sem respirar, desci os degraus que me levariam ao quintal já escuro àquela hora. Ao passar pela porta do porão senti-me atraído por alguma coisa que insistentemente chamava-me a atenção. Sentia medo e tentava, em vão, recuar. Fui tomado por uma coragem súbita e, respirando fundo, com o ombro abri violentamente aquele túnel que me levava à escuridão. Pude ver uma revoada de morcegos que se preparavam para se aventurarem noite adentro. Aos poucos meus olhos foram se acostumando à escuridão. Vaguei por alguns instantes sem destino sentindo todo meu corpo tremer. Aos poucos percebi uma luz que brilhava longe e que me fazia sentir alguma segurança.

Caminhei em sua direção por longas noites. Talvez meses, talvez anos. Quando, depois de muito tempo, consegui me aproximar daquele brilho, percebi que se tratava de uma pequena janela. Como não podia transpô-la, sentei-me e comecei a admirar todas as maravilhas do outro lado.
Vi uma rua sendo asfaltada e tendo seu movimento alterado por um grande número de automóveis. À medida que os anos passavam pude perceber um lindo jardim sendo destruído e em seu lugar um grande prédio ser levantado.  Já não havia tribos que me ameaçassem. Contidos, todos os inimigos me evitavam. Temiam lutar comigo ou não me percebiam através daquela pequena janela. Também não havia mais super heróis. Tudo estava mudado. Sabendo que naquele lugar eu estaria seguro para sempre, permaneci observando o mundo como se olhasse a vida através de uma vidraça. Nada mais me atingia, nada me fazia sofrer. Às vezes somente uma saudade me afligia. Pensava em meus amigos. Onde andariam?

Certa vez, ouvindo os transeuntes que passavam por minha janela, soube que Zulu, preso em um pequeno canil, ficara tão furioso que morrera tentando arrebentar uma fortaleza cercada por telas de arame.
Pink, após aquela batalha, experimentara a vida na rua lutando pelo alimento de cada dia. Tivera alguns filhotes e num dia como qualquer outro, fora atropelada por um automóvel e morrera.

Bob, capturado pelos inimigos, fora levado a uma fazenda. Imaginando que a brincadeira continuava, morreu ao perseguir uma boiada no pasto. Atingido por um coice, não resistiu.

Gabriela tivera uma ninhada de lindos coelhinhos. Todos delicados, brancos e suaves como a mãe.

Eu, enquanto pensava em meus amigos, olhando da escuridão em que me encontrava, para a luz que eu percebia lá fora, elaborava um plano que me libertasse daquele presídio e me conduzisse àquele quintal onde cresciam mamoneiras, mangueiras e outras plantas. Ali, embaladas pelo canto de pardais, sanhaços, gaturamos e um sem número de outros pássaros, todos cumpriam harmoniosamente o ofício e arte de viver.  Às vezes pensava em retornar pelo túnel escuro e, numa linda manhã de primavera, abrir aquela porta que me conduzira à solidão. Mas tinha medo. Lá fora já não se falava em aventuras. As pessoas já não tratavam como semelhantes a natureza e os animais. Iludidos, todos se portavam como superiores.

Dedico esta pequena história ao Otto, que me mostrou como viver intensamente com alegria até o momento da morte.

sábado, 22 de abril de 2017

A solidão da existência em Hermann Hesse

A evolução pessoal e espiritual por meio da experiência estética vivenciada  na arte é constante na obra de Hermann Hesse, escritor alemão, nascido em Calw e naturalizado suíço.
Desde suas primeiras obras até a maturidade plena, quando produziu seus grandes romances, seus personagens, quase sempre espelhos de sua realidade, encontram na música e na pintura, principalmente, o impulso criador como mola propulsora para o enfrentamento da realidade e contingências do dia a dia. Em um paralelo entre a vida vivida intensamente, em meio às suas complexidades, a evolução rumo ao conhecimento por meio da experiência diária e o embate com a fragilidade do ser, confrontando com as regras de comportamento e luta pela sobrevivência, vemos o nascer de um outro componente: o homem enquanto individuo pensante, com suas necessidades, qualidades e desejos de auto afirmação, na solidão de sua existência.

Hesse, como Nietzche, considerava a música uma arte feminina, que se organiza por meio de harmonia e sons puros, alheia à representação de objetos em contraponto com a pintura, uma arte masculina, de representação e realismo.

Gertrud, romance de 1910, considerado musical, aborda com lirismo e suavidade a possibilidade da transformação, pela criação, das diferenças e deformidades humanas, em arte sublime. Toda a transparência melancólica de seu personagem, frente ao desgaste imposto por sua condição física, nos conduz ao vislumbre da possibilidade de trilhar um caminho iluminado pela arte, rumo à redenção da vida. Gertrud, mesmo não sendo a personagem central, traduz o ideal da estética artística, num misto de beleza e desejo, não apenas físico, mas também de impulso à criação.
Com inúmeras interpretações possíveis, o romance contém, em sua temática, como em outros livros do autor, um diálogo e busca de convivência entre o intelecto e o empirismo, o sonho e a realidade, o sagrado e o profano.
Hermann Hesse compõe e constrói uma atmosfera melancólica enriquecida pelos questionamentos do confronto entre a arte e a vida, que antecipariam os anos difíceis que impulsionariam a destruição,  presentes na origem do terceiro Reich.

Rosshald (1914), nome do romance e da propriedade onde vive o pintor Johann Veraguth, mostra o processo de redescobrimento da personalidade e a busca de identidade do protagonista. O personagem reúne em si as várias facetas do sentimento humano: um casamento em crise, o amor incondicional por um filho e os conflitos com um outro filho mais velho. Momentos diferentes da vida, embalados pelo mesmo sentimento, em suas variadas formas objetivas e subjetivas. Em meio a todos esses sentimentos, a pintura serve como um suporte para a aceitação e continuação da vida, onde o personagem consegue mergulhar para transpor o que, no dia a dia, surge como intransponível. Rosshalde torna-se uma prisão onde Johann Veraguth vive uma vida sem sentido. É por meio da visita de um amigo, o personagem Otto Burkhardt que nos deparamos novamente, com o questionamento da vida, quando o pintor faz uma análise de sua história pregressa em busca de sua identidade, tendo a arte como clarificadora de tudo o que ele poderia ser. O auto conhecimento o levará a soltar as amarras que o prendem a Rosshalde, elipse dos conceitos impostos pelo sistema, com suas travas criadas no ambiente de formação. Filosofia, intelecto e criação amparando o pensamento que nos conduz à dificuldade de viver um dia por vez, frente às intempéries e desilusões mas que, no enlaçar das pontas, nos levarão às realizações plenas, com o domínio de nossas funções no meio em que vivemos. Hermann Hesse nos possibilita infiltrar na forma de olhar do artista, nos conduzindo, assim, ao encontro de nós mesmos, quando, paralelamente à leitura, repassamos nossos valores, sonhos e desejos frustrados, devido à inércia do comodismo, adquirida pelo exercício de uma pseudo-segurança que nos conduz aos valores e sistema de regras em que vivemos.

Escrito durante uma crise existencial, como as que precederam suas importantes obras, em 1927 é lançado aquele que seria considerado um de seus mais importantes romances:  “O Lobo da estepe”.
Hermann Hesse confronta nesse romance a solidão e o desregramento humano com seu lado essencialmente puro. Harry Haller, personagem central que se autodenomina “Lobo das estepes” curiosamente tem em seu nome as iniciais do autor, fato que nos leva a crer na, sempre presente,  duplicidade de seus personagens, onde se confundem a ficção e a realidade. Harry Haller é um homem hipocondríaco, triste, com forte tendência para o sofrimento, vivendo em uma sociedade dividida entre a decadência europeia humanista e a crescente evolução tecnológica norte americana. Vive essa duplicidade com incapacidade de se encontrar ou se posicionar escolhendo uma ou outra. Em um encontro casual com Hermínia,  nome feminino de Hermann, ela lhe apresenta um mundo novo, onde, repassando ou se confrontando com seus ídolos, Harry terá que aprender a rir de si mesmo. Encontrar em si a ironia superior perante a vida.

A arte e a realidade expostas por seus ídolos Mozart e Goethe, o levarão ao encontro da harmonia entre o homem e o lobo existentes em si mesmo. Uma visão bem humorada de si e do mundo que o cerca, com suas relatividades, dúvidas e diferentes facetas. A reação a essa obra de Hermann Hesse teve uma receptividade controversa. Para alguns, considerada uma obra inútil. Para outros, um marco do preexistencialismo. Os movimentos hippies, principalmente, viram em seu caráter alucinatório, um modelo de obra que acolhia o movimento.
Em sua essência, “O lobo da estepe” é uma obra que aborda a vida urbana como algo que desintegra a cultura e os aspectos psicológicos do ser, retratando uma cultura, aos olhos do artista, desprovida de senso de humor e leveza. Solidão, aspereza e falta de cuidado no trato com as pessoas, tornam-se alternativas comuns para suportarmos o fardo imposto, por nós mesmos, na condução de nossas vidas.

Fruto de sua maturidade como um escritor que questionou conceitos, condutas políticas, visitou e conheceu culturas diferentes, surge em 1943, “O jogo das contas de vidro”.
Embora seu argumento seja simples, a obra possui grande complexidade, ao abordar um sistema de regras para a condução da vida, idealizada a partir da criação de uma ordem em que se prevaleça o cultivo do espírito e o empenho na construção de um novo mundo, frente ao cansaço causado pela decadência cultural. Conhecida como a Ordem de Castália, nome que deriva da província pedagógica de Castália, ideada por Goethe, ali vivem seus membros em condição quase monástica, sem aceitar os frutos e êxitos mundanos. Todos tendo como objetivo a busca de união de todas as artes e ciências. Como diz o próprio autor: “O jogo das contas de vidro é um jogo baseado em todos os conteúdos e valores da cultura com os quais se joga da mesma maneira como um pintor jogava, em épocas de florescimento, com as cores da sua paleta”. Para se chegar ao domínio de todas as regras, eram necessários anos de dedicação e rigor na  formatação de costumes, além do desenvolvimento de uma conduta e disciplina voltada para a busca da intelectualidade em convívio com a simplicidade nos hábitos.

Seu protagonista Joseph Knecht, em português José Servo, ingressa na ordem de Castália e se sobressai, ao longo dos anos, chegando ao posto máximo de “Magister Ludi”. Com o tempo, na medida em que avança em seus conhecimentos, Joseph Knecht começa uma série de questionamentos acerca da proposta de Castália, de criar um novo mundo. Percebe que esse mundo também está sujeito às mudanças, intempéries e problemas concernentes à natureza humana, como o viver, o morrer e, até mesmo, a solidão das ideias. De seu alto posto, vislumbra outros valores e abandona Castália, partindo em busca de outras experiências. Afastado do mundo fora de Castália e desacostumado do embate do dia a dia pela sobrevivência, ele consegue um cargo de professor para o filho de um amigo, agora político. Pouco tempo após, morre afogado em uma lagoa nas montanhas. Em Hermann Hesse é frequente a morte de seus personagens na água, representando um mergulho no inconsciente. Thomas Mann, com quem Hesse se correspondeu durante muitos anos, diz em uma carta, a respeito de “O jogo das contas de vidro”: “A perplexidade figura também entre os sentimentos com que li a obra; perplexidade ante uma sensação de proximidade e parentesco que, apesar de não ser a primeira vez que me impressiona, o fez agora de forma especialmente precisa e objetiva”. Nessa frase ele faz alusão ao romance que escrevia naquela ocasião, intitulado “Doutor Faustus”, que tratava da vida de um compositor alemão vivendo a solidão da busca de novas linguagens na criação.

Hermann Hesse recebeu, em 1946, o Prêmio Nobel de Literatura. Morreu em sua casa em Montagnola, na Suiça, em 1962, aos 85 anos. Segundo sua esposa Ninon Dolbin, caminhando pelo bosque na manhã anterior, Hesse teria dito, ao puxar um ramo podre de uma acácia: “Este ainda aguenta”. Daí surgiu o poema: “Duma vida demasiado longa, Duma morte demasiado longa, cansada, Ainda um Verão, ainda um inverno”. Morreu na manhã seguinte, enquanto dormia.
Em Hesse convivem a arte e a fantasia com a lógica e o rigor intelectual. Apolo e Dionísio lado a lado, se confundindo no mover da vida. A instabilidade do ser, suas incertezas e a transformação das dores e dúvidas em realizações e transcendência do espírito. O sagrado e o profano.

São várias as leituras possíveis nas obras citadas. Em todas elas, a solidão do ser se confronta com a vida cotidiana, na busca de solução para os problemas que atormentam seus personagens. Embora nos dois primeiros romances, o autor coloque seus personagens em enfrentamento com a dura realidade, percebe-se em ambos, o apaziguamento das incertezas e medos, por meio da criatividade na arte. Em contraponto com essa solução para as amarguras do ser, no romance “O lobo da estepe”, a única saída possível para a vida, aconselhada por Mozart e Goethe é brincar com todos os problemas e medos, sem buscar uma superação racional. Aceitá-los com bom humor sem se levar muito a sério, convertendo-os em experiência vital que ilumine o ser e dê brilho à vida. Já no livro “O jogo das contas de vidro”, o personagem José Servo encontra a si mesmo, a partir do abandono de teses conceituais sobre a vida, de sua substituição pelo viver as coisas simples tendo como suporte o tempo. A vida regida pelo tempo que nos resta para viver; que consome o pensamento humano e nos prepara para o mergulho final no lago da entrega e da impotência frente à certeza da morte.

Na procura do entendimento da vida e de sua posição no mundo, com suas variantes e riqueza de possibilidades, dissera o autor anos antes: “Solidão é independência, com ela eu sempre sonhara e a obtivera afinal, após tantos anos”.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Cinema

Voar tornou-se símbolo de liberdade. Da busca do desprendimento das amarras da vida. Mas é na solidão de uma cela, morada de um condenado à prisão perpétua, que um filhote de pardal encontrará o cuidado necessário para crescer longe de seu ninho, longe de sua espécie, dando início a um período de paz interior, justamente quando o detento se envolve e se preocupa com o dia a dia dessa ave solitária. Isso dá sequência a uma história fantástica sobre o cuidado e a leveza, necessários para lidar com pássaros tão frágeis e delicados.  Sentimentos que contagiam o coração. Ali, onde o termo “liberdade” não produz os efeitos práticos, resta somente a libertação da alma. A aceitação das limitações da vida vivida em cativeiro. Justamente com pássaros. Estou falando do filme “Birdman of Alcatraz”.*

Não sabemos o que nos espera após a morte... Moldamos, ao longo da vida, o que pensamos ser o melhor e, baseados nos preceitos familiares e na convivência social, fazemos opções assumindo as consequências possibilitadas pelo exercício do livre arbítrio.
Imaginem se após a morte, fôssemos recebidos por um grupo incumbido de criar o filme de um momento de nossa vida, que nos tenha marcado profundamente! Essa lembrança seria o que levaríamos para a eternidade. Somente uma lembrança... Nesse momento, qual seria a lembrança de um acontecimento importante em sua trajetória nesse mundo, que seria o filme de sua vida para a eternidade? Estou falando do filme “Depois da vida”.**

Andando por uma rua deserta, à noite, observava a solidão dos edifícios, com suas poucas luzes acesas, imaginando os acontecimentos  simultâneos que contribuem para o que chamamos de viver. Alegrias, tristezas, realizações, dores... Tudo acontecendo simultaneamente e girando a roda que movimenta o mundo. Repentinamente, gritos atravessam a noite interrompendo a monotonia e o romantismo de uma chuvinha fina. Duas pessoas discutem com ferocidade. Embaixo de uma marquise, uma velha senhora de aproximadamente trinta e poucos anos, vociferando com palavrões e muita ira, exige que um rapaz saia de seu espaço argumentando que, à noite, aquele lugar é a sua casa. Ela exige que respeitem o seu lar de todas as noites. A briga é muito assustadora e a senhora sai vencedora. O invasor desiste. Sai em busca de outro lugar.

Estou falando, lamentavelmente, do filme real da vida. O espectador era eu mesmo. Descia a Rua Gávea no bairro Jardim América, em Belo Horizonte, após um dia de gravações. Quisera ser, naquela hora, o herói de um filme que salva os pássaros de dentro de sua morada eterna nesse mundo. Teria uma bela lembrança para o filme de minha vida...

*John Frankenheimer
**Hirokazu Kore-eda



sábado, 11 de março de 2017

Todas as manhãs do mundo

Música... Teremos que fechar os ouvidos para tudo que nos propõem. Teremos que abrir nosso coração para tudo que desconhecemos. Quem sabe nos encontremos na entrega, no voo maior da busca? Por que ser músico? Por que compor ou estudar um instrumento? Quando podemos considerar o que fazemos, como música verdadeira?
Muitos artistas já se perguntaram ou se depararam com esse questionamento, que definiria sua permanência, ou não, nesse difícil caminho.

Baseado no livro de Pascal Quignard - Tous les matines du monde -  “Todas as manhãs do mundo” (1991), de Alain Corneau, é um filme com um roteiro sutil, com uma aura bucólica e um romantismo comedido na aparência, embora intenso na essência. Caracterizando um conceito e estilo de amor trágico que, mesmo com a utilização de elipses, não transparece nenhuma preocupação com as entrelinhas. Permitindo que os personagens vivenciem a lentidão e a solidão do tempo interior.

Sainte-Colombe, um grande músico afastado da corte, vive com suas duas filhas em uma propriedade rural. Ambas aprenderam, com o pai, os conceitos estéticos da música e a arte de tocar  a Viola da gamba*. Vivendo de forma austera, passando várias horas em uma cabana construída para ser seu reduto, com o objetivo de se dedicar à música e à memória de sua esposa, ele se torna uma pessoa amarga, silenciosa e solitária. Fechado em si mesmo com seus fantasmas, levando ao extremo a sua condição solitária.

Marin Marais é um jovem  e talentoso estudante de música que busca em Monsieur Sainte-Colombe, os ensinamentos para se aprofundar no estudo da Viola da Gamba.
Hesitante, o mestre o aceita como aluno mas, pouco tempo depois, o expulsa de sua propriedade. Insensível aos soluços de sua filha, o mestre lhe diz: “O que é um instrumento? Não é a música ...Ouça os soluços que a pena arranca de minha filha... Estão mais perto da música que suas escalas! Vá-se daqui pra sempre. Você é um bom malabarista. Os pratos voam sobre sua cabeça e você não perde o equilíbrio. Mas é um pobre músico.”

Embora já estivesse envolvido com Madeleine,  uma das filhas de St. Colombe, Marais passa a viver na corte, rejeitando-a mesmo após saber de sua gravidez, construindo uma carreira de muito sucesso e se tornando um  importante compositor de sua época. A criança nasce morta, colocando Madeleine em grave estado de saúde. Fragilizada pelo abandono, manifestando seu desejo de ouvir a peça que Marin Marais havia composto para ela, por meio de sua irmã, o compositor lhe faz uma última visita. Após a execução de “La Rêveuse” e a partida de Marais, ela se suicida.

Como a música se alimenta da busca do conhecimento e aprofundamento no ser, mesmo com todo o sucesso na corte, Marais, aos poucos, sente que aquela semente lançada com hostilidade por seu mestre, criara raízes em seu pensamento e se tornara fértil em seus anseios de músico. Todas as noites ele retorna à propriedade de Sainte-Colombe e, escondido, escuta sua música. Talvez tocado pela culpa – Madeleine havia se suicidado depois de abandonada por ele – percebemos em sua atitude uma similaridade da percepção do sofrimento e da perda com o desejo de busca de novos caminhos para a música que professava. Tendo como essência a incompletude, o desejo de conhecimento do indizível...

A partir desse ponto, inicia-se uma nova relação entre mestre e discípulo, em um diálogo revelador, que aprofunda os conceitos filosóficos que doutrinam a vida do músico. O que é a música?  O que nos leva a ser músico e estudar um instrumento? Experiências de vida que dialogam com a subjetividade do ser e do fazer música. Aquilo que não existe, que nos vem em leves pinceladas do tempo em nossa forma de conduzir e ordenar os sons, o silêncio...

O filme, tecnicamente muito bem produzindo, conta com uma linda fotografia de Yves Angelo e belíssimas interpretações de Guillaume Depardieu (morto prematuramente aos 37 anos por pneumonia) como o jovem Marin Marais e Anne Brochet, como Madeleine. Como narrador VoiceOver e no papel de Marin Marais em sua fase adulta, encontramos um brilhante Gerard Depardieu que contracena magistralmente com  Jean-Pierre Marielle, como Sainte Colombe, um destaque à parte. Dois grandes atores conduzindo toda a trama, envolvidos pela beleza musical de temas compostos por Marin Marais e St. Colombe, entre outros, além de música original composta e interpretada impecavelmente por Jordi Savall, o que eleva e intensifica o realismo emocional da ação.

Para os músicos, talvez seja um pouco sofrível a imitação dos movimentos na interpretação dos temas, pela falta de sincronia e lógica dos movimentos melódicos, detalhe que merecia um estudo mais aprofundado. Mas, em hipótese alguma, esse deslize compromete um dos grandes filmes sobre música. Que nos eleva e nos enleva. Que nos conduz à reflexão máxima da vida, como dito em determinado momento do desenvolvimento da ação: "Todas as manhãs do mundo não retornam".

*Viola da gamba – instrumento de cordas tocado com arco e geralmente dotado de sete (viola francesa) ou seis cordas (viola inglesa).

Gênero: Drama
Direção: Alain Corneau
Roteiro: Alain Corneau, Pascal Quignard
Elenco: Anne Brochet, Carole Richert, Caroline Sihol, Gérard Depardieu, Guillaume Depardieu, Jean-Claude Dreyfus, Jean-Marie Poirier, Jean-Pierre Marielle, Michel Bouquet, Myriam Boyer, Nadège Teron, Philippe Duclos, Violaine Lacroix, Yves Gasc, Yves Gourvil, Yves Lambrecht
Produção: Jean-Louis Livi
Fotografia: Yves Angelo
https://youtu.be/pzJrIuSiQiQ

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A árvore dos tamancos

Crianças desempenhando funções de adultos e integradas, com suas famílias, à dura realidade do dia a dia. Vivendo e aceitando a dureza da vida pobre, com resignação e simplicidade. Inovando e renovando, todos os dias, a alegria e o poder criativo nas relações, no lazer e nas brincadeiras. Exercitando o amor em breves flertes respeitosos, com a beleza e pureza dos seres e da natureza. Mas sujeitos às injustiças sociais...

“A Árvore dos Tamancos” é considerado um dos grandes trabalhos do diretor Ermanno Olmi (Bérgamo – Itália - 1931). Seguindo os moldes do Neo Realismo Italiano, trabalhando com camponeses reais sem nenhuma experiência como atores, o diretor nos mostra a dura realidade de um agrupamento de famílias que vivem na região da Lombardía, no final do século XIX. Vivendo sob um regime de meeiros, onde a partilha de tudo que se colhe é feita em uma proporção de dois para um, cabendo aos trabalhadores a menor parte.

Individualmente, os personagens têm objetivos diversos na vida. O que os une é a luta pela subsistência, onde todos buscam uma saída para os seus problemas, dividindo os trabalhos, as angústias e se apegando à religiosidade e crença em Deus, como única saída para os seus infortúnios. Talvez um contrapeso para as limitações sociais impostas pelo sistema, buscando uma compensação divina para as desgraças e dissabores que os assolam na vida diária.

O tema central trata da história de um casal que, aconselhado pelo pároco, envia seu filho, criança notadamente inteligente, à escola. Isso o obriga a caminhar alguns quilômetros diários para estudar. Em uma dessas idas e vindas, o menino vê o seu calçado partido e, com muita dificuldade e lentidão consegue retornar à sua casa. Diante do acontecimento e da falta de recursos para comprar outro calçado, seu pai resolve cortar, às escondidas, uma árvore para, à noite, durante as orações da família, confeccionar um novo sapato para seu filho. As consequências dessa atitude, no desfecho do filme, nos conduzem à triste percepção de um mundo cruel, movido pelo poder e alheio às necessidades humanas.

Mesmo seguindo uma linha documental, o diretor conduz toda a trama com lirismo, esmero e abordagem poética. Sem evitar a crueza dos costumes e da condição dos camponeses pobres, ele nos leva à percepção da solidariedade humana em meio à pobreza. Da criatividade nas relações pessoais e do lazer em acordo com as condições sociais, onde todos cultivam, juntos, o bom humor e preservam o respeito e a amizade.

No final, a triste constatação de que nos tempos atuais vivemos em um mundo mais evoluído, porém com a persistência dos mesmo problemas: a dificuldade do acesso ao conhecimento e o domínio capitalista massificando e induzindo a maioria da população, com interesses alheios às necessidades do povo. Que em pleno século XXI ainda se permite a fome, a pobreza e a falta de educação básica. Que se promove a violência e se permite que os mecanismos tecnológicos, que poderiam tornar a vida de todos os seres melhor, pouco a pouco se convertem em grandes e comprometedores problemas que favorecerão, em curto prazo, o desemprego em nível mundial.
Premiado em vários países, “A árvore dos tamancos” obteve a Palma de ouro (melhor filme), no Festival de Cannes 1978, além do Prêmio Especial do Júri Ecumênico.

A ÁRVORE DOS TAMANCOS
(L´Albero Degli Zoccoli, Itália / França, 1978).
Direção, Roteiro e Fotografia: Ermanno Olmi.
Elenco: Luigi Ornaghi, Francesca Moriggi, Omar, Brignoli, Antonio Ferrari, Teresa Bresciani, Giuseppe Brignoli.
Drama / História.
186 minutos.
https://youtu.be/juvT6B_c0VA