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O riso de escárnio das hienas

Lembro-me da primeira vez em que vi, na porta de um teatro, um cartaz anunciando meu show. Aquela simples exposição me fez sentir que eu era um personagem na cena musical de Belo Horizonte. Jovem, imaturo e idealista, pensava na possibilidade da projeção de um trabalho tecido no sonho e no dia a dia dos estudos. Com o passar dos anos veio a consciência empresarial, necessária, de uma profissão chamada de “sagrada”, porém massacrada pelo conservadorismo piegas das mentes “cuidadosamente incultas” - ou explícitas - que conduzem a política no Brasil. Atualmente, projeção da maledicência e obscurantismo de governantes, onde os dogmas prevalecem à dignidade do bem viver e aos direitos dos cidadãos, equilibrados com os deveres. Uma falsa virtude muito apreciada nos tempos atuais, que disfarça e deixa transbordar as garras bestiais da Fera (ódio, rancor, preconceito, indiferença), mutilando e condenando a Bela (natureza, respeito, solidariedade, diferenças de credos... O Planeta). Con

O vermelho da vida

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Lá fora, um frio abaixo de zero... Por detrás de um vidro, com um olhar a sessenta por hora, observo um coração aquecido pela urgência dos dias. O pulsar da vida ritmado no caminhar que renasce todas as manhãs. Que nos obriga a recomeçar algo que não concluímos. Passos tranquilos e elegantes, revelando a dignidade, resignação e solidão do ser. Mãos que se esfregam no frio de um coração que pulsa. Que se mistura com as cores do dia, com os poderes que invadem a vida e o caminho... O sonho. Consumindo sua presença no vermelho que inunda o sangue do viver. Inundando e sangrando todo o seu ser. Sua vida. E o tempo passando... Uma bela, mística e sonolenta manhã em La Paz...

Sobre a morte...

Todos aqueles que vivem em Belo Horizonte e já andaram pelas imediações da Avenida Silva Lobo, até a Via Expressa, já viram um rapaz, provavelmente jovem, sem pernas e muito sujo, utilizando como meio de transporte um Skate. Próximo a algum sinal de trânsito, ele segue na lida do dia a dia. Sempre o observei. Inicialmente com pena, mas, com o tempo, com certa admiração. Às vezes penso nas políticas públicas e sociais, nas pessoas sem moradia, sem alimento, sem educação, saúde… Na hipocrisia religiosa e pseudo-solidariedade implantada na mente das pessoas conduzidas pelo espelho da vaidade e do poder. Da incompreenção das necessidades básicas do ser humano, símbolo de um mundo fracassado. Da ilusão implantada em nossa mente, de vivermos tempos modernos, onde nos comunicamos com o mundo todo, a qualquer momento, favorecendo assim, nossos dias. Stop, please… Para que me serve essa comunicação se o que predomina são asneiras nas redes sociais e nos órgãos de imprensa? Se o pecar por

Insanidade

Próximo ao dia do compositor, comecei a formular e ponderar sobre o sentido da cultura em nossa vida. De forma ampla… Preguiçoso e enfastiado que ando, com tanto lixo invadindo nossa casa e nossa vida, revisei o quadro cultural brasileiro. Que tristeza. Museus incendiados e condenados ao esquecimento, classe artística desprezada, setores culturais conduzidos sem criatividade por políticos de carreira, inabilitados, sentados à mesa de decisões de secretarias... Tudo isso cedendo lugar, na mentalidade do povo, por meio da mídia, a golpes de faca e bate bocas de pseudos conhecedores da problemática da vida. Do respeito… Ironicamente, sorri e imaginei: como consegui dedicar toda minha vida ao estudo da música, composição, violão, ler livros, estudar cinema e canalizar tudo isso para o relacionamento com as pessoas e o entendimento da natureza humana?... Que loucura. Aprofundar em temas como esse, dá muito trabalho e, quase sempre, nos leva ao conceito de que alguns questionamentos s

Primeiro baile

Quis dizer-lhe algo sobre minha fragilidade. Sobre não saber para onde o mundo caminha. Sobre meus medos e inseguranças. Não consegui… O mundo é dirigido por nós mesmos em cadeias desordenadas, em direções variadas. Cada um buscando o que quer e dirigindo o andar dos dias como deseja. Na madrugada, quando quase todos dormem, almas se redimem de suas dúvidas e pecados. A manhã é ansiosa. O dia tem que nascer. Ele me olha e diz que sua vida não seria a mesma sem minha presença. Eu, contendo as lágrimas, em silêncio sufocado, penso: Meu Deus, como pode a minha insegurança ser tão desafiadora e poderosa? Ele, olhando-me fixamente, sem responder, me diz no mais fundo de meu pensamento: Como pode a segurança se envolver em águas tão inseguras… E a noite invade a madrugada e avança para a manhã. É o primeiro baile…

Numa noite em Lisboa - Trindade

Os pés cansados. O rosto vívido... O entusiasmo regando e cultivando o espírito.  Purificando o pensamento. O caminhar. A descoberta de uma cidade com subidas, descidas... Ruas movimentadas e perigo nas esquinas. Passos registrando rotas e olhares fotografando a vida das ruas de tristeza e frio. O desejo de ser mais do que eu era... O Tejo me dizendo que a vida é um eterno ir e vir de histórias contadas com o passar de suas águas. O fado tentando me convencer do peso dessa caminhada, com a suavidade envolvendo seu sofrimento. Vozes que clamam em uma noite de Alfama. Luzes que cintilam no contar de outros tempos. Ruas e becos cansados, ofegantes. Intermináveis degraus... Um bonde voltando ao passado, no frio olhar da fumaça de um hálito quente. Guitarras no despertar da noite. Do alto, tão bela música olhando o silêncio do Tejo, que viaja a dormir. Lábios se unindo no calor das mãos que se entrelaçam. No olhar de pálpebras cerradas, o perfume e o sussurrar do pensamento.  O Tej

Birdman

Voar tornou-se símbolo de liberdade. Da busca do desprendimento das amarras da vida. Mas é na solidão de uma cela, morada de um condenado à prisão perpétua, que um filhote de pardal encontrará o cuidado necessário para crescer longe de seu ninho, longe de sua espécie, dando início a um período de paz interior, justamente quando o detento se envolve e se preocupa com o dia a dia dessa ave solitária. Isso dá sequência a uma história fantástica sobre o cuidado e a leveza, necessários para lidar com pássaros tão frágeis e delicados.  Sentimentos que contagiam o coração. Ali, onde o termo “liberdade” não produz os efeitos práticos, resta somente a libertação da alma. A aceitação das limitações da vida vivida em cativeiro. Justamente com pássaros. Estou falando do filme “Birdman of Alcatraz”.* Não sabemos o que nos espera após a morte... Moldamos, ao longo da vida, o que pensamos ser o melhor e, baseados nos preceitos familiares e na convivência social, fazemos opções assumindo as consequ

Contrários

- Não são do bem nem do mal. São facções opostas. Foi assim que meu filho respondeu à minha pergunta sobre os personagens de um joguinho eletrônico. Após dizer-lhe que a resposta era sábia, sem que ele desse qualquer  importância à minha opinião, seguimos jogando. Ou melhor, ele jogando e eu o observando. Sou péssimo nesse item. Hoje, após abrir os olhos pela manhã, lembrei-me de nossa conversa. Depois de perambular por muitas hipóteses em busca de compreensão desse mundo estranho, onde amigos se digladiam e acreditam em opiniões (verdades)  apresentadas pela via escrita, justificando agressões nomeadas de “discussão saudável e necessária”, finalmente me veio a revelação que eu buscava. Já suspeitava, mas dita de forma metafórica, tendo como roteiro elipses da vida, fica tudo mais simples. Ditas com naturalidade, por uma criança, dando a devida importância: posicionamento. Em minha mente desfilaram várias frases que presenciei, li ou ouvi ao longo da vida e que são atribuídas, n

Lá fora...

"As coisas assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas".* Saí lá fora e caminhei lentamente, a esmo. As damas da noite me assediando e me envolvendo. Olhei-me nos olhos e refleti, no espelho de   minha alma, o sentido de tudo em movimento. Na mistura de circunstâncias que é a vida, fui ingênuo, romântico... Talvez dramático também.  Lentamente, evaporou de minha mente todas as tristezas,   males e frustrações que sombreavam meus dias. Tudo junto, me abandonando. O ar quente da noite, se tornando fresco. Incompreensão se convertendo em compreensão. Cegos enxergando e aleijados correndo felizes pelas ruas. Portas se abriram e, delas, os mortos ressurgiram. Com um grande salto comecei a voar. Enquanto isso, meus cabelos ondulavam sob uma leve brisa e as damas da noite, inquietas, me afagando o coração. Abri os olhos e virei-me para a janela semiaberta. Um vento suave inundava a madrugada daquele quarto. Vire

A paz...

Aviões de guerra bombardeavam a cidade.  Alguém me cedeu uma arma que mais parecia um brinquedo quebrado. Tentando descobrir uma forma de maneja-la, enquanto me protegia, eu corria de um lado para o outro, entrando em canais de esgoto e mantendo sob minha mira, todos que encontrava.  Parecia um filme, mas havia certa carga de realismo e um tipo de medo que me movia e ao mesmo tempo me fazia refém do acaso. Viver ou morrer lutando, sem me preocupar com a diferença entre ambos. Em alguns momentos tudo me parecia brincadeira. Daquelas da infância... Acordei em uma cidade da Bolívia. Da janela eu via parte de uma linda praça em frente à Igreja de São Francisco. Na noite anterior, apesar do frio, estivera ali observando inúmeras pessoas enquanto pensava no Santo de Assis. Quanta bondade e coragem ao mudar a direção de sua existência! Imaginei como deve ser difícil se destacar entre as pessoas simples, tendo como escudo a simplicidade. Ser considerado santo somente por aqueles que se desp