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Plano Geral - Entrevista com José Tavares de Barros

Profundo conhecedor da linguagem cinematográfica, o Professor José Tavares de Barros fala com sensibilidade, de forma espontânea, de sua visão sobre o cinema atual. Com sabedoria ele nos conduz à compreensão da importância da emoção e abordagem do mistério da vida e espiritualidade no cinema, para a realização de um bom filme. GV – Com características próprias de estilo e circunstâncias de época, marcaram a história do cinema, movimentos como a Nouvelle Vague, o Neo-realismo italiano, o Cinema Novo… Existe, no cinema brasileiro atual, alguma característica particular, que vá marcar esta época? JTB – Não entendo que existam atualmente tendências específicas no cinema brasileiro, como ocorreu com a Nouvelle Vague e com o próprio Cinema Novo. Desde a retomada, em 1990, há uma diversidade heterogênea de temáticas, enfoques e estilos, além de reincidente relação ambígua com o público. Há categorias evidentes, como a do cinema comercial – nem sempre com êxito – e um cinema independente com t

Mulher

Eu poderia escrever muitas palavras bonitas, suaves e poéticas. Mas o medo da redundância me impede.   As datas me confundem. Criam marcas, quase sempre sem associa-las às atitudes.  Meu desejo de paz, respeito, delicadeza e realizações na vida é dirigido a todas as mulheres que conheço: minha mãe, irmã, sobrinhas, cunhadas, amigas... Todas as mulheres que passaram por minha vida e também para aquelas que não conheci. Que seguem o mesmo curso nessa trajetória e luta pela igualdade humana. Como uma senhora que vi, hoje, em uma rua de Belo Horizonte. Com sulcos profundos causados pelas rugas em seu rosto e olhar apático, afogado no alcoolismo, escondendo sua idade, sua história, suas vaidades e sonhos. Que a vida seja melhor para todas as mulheres. Vamos comemorar, lutar e exigir direitos. A vida é bonita e pode ser florida!

Chick Corea - A partida...

Ontem assisti novamente ao documentário “Francisco Sánchez”. Nele, o Francisco, que na verdade conhecemos como Paco de Lucía, se encontra em um aeroporto, com Chick Corea. Depois, já no camarim, eles conversam (pouco) e combinam o encontro no palco.   Fiquei pensando nessa coisa de aeroporto, camarim, palco, interpretação e performance. Todos são locais ou situações transitórias, onde somos levados a criar rotas, metas, estabelecer caminhos e, ao mesmo tempo, aceitar o inesperado. Assim eu vejo a vida. Imprevisível. Principalmente a de músico. Todos vão tecendo e desenvolvendo o argumento de suas músicas e combinando novos encontros e sonhos que talvez não se concretizem. Tudo conduzido pela criatividade e poder de improvisar, ressignificar. A grande viagem, com reserva garantida ao nascer, mesmo não sabendo qual o destino, ou se há um destino, fazemos sozinhos.  Ao saber da morte de Chick Corea, repassei alguns álbuns. Principalmente os que mais gosto: Akoustic Band e Three Quartets.

Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera

Há alguns anos, ao lado de Fernando Brant, comecei a visitar os videoclubes que começavam a fechar suas portas com a grande mudança do produto físico (DVD e Blue Ray) para as plataformas de streaming. Comprávamos todos os filmes raros. Filmes para serem sentidos, experimentados... As estações do ano formam um ciclo muito instigante na vida. Eu espero ansiosamente a primavera, minha preferida. Sofro um pouco no calor do verão, suporto bem o outono e, com esperança, passo pelo inverno. Em todas essas fases, vou sentido as mudanças, às vezes difíceis, que na verdade são etapas de crescimento, de adaptação e readaptação. Aprendemos a conviver, ao longo da vida, com os desejos não realizados, as dificuldades, amores frustrados e a busca do perdão junto com a capacidade de perdoar. Inclusive, a nós mesmos. Como as estações do ano, os períodos do dia e outros movimentos cíclicos da vida, vamos nos aprimorando na difícil arte de viver. Mas o mundo não para. Tudo segu

Esperança

Muitos partiram. Pessoas próximas que amamos e pessoas que, talvez, jamais encontrássemos. Sabemos que cada ser tem um papel a cumprir nesse mundo e que a melhor forma de desempenha-lo continua sendo a solidariedade e o respeito a todos aqueles com quem cruzamos.     A maior comemoração na chegada do novo ano tem de ser a fé na vida e nos seres de boa vontade que, juntos de nós, seguem por esse caminho...   Em Santa Efigênia (bairro de Belo Horizonte), um morador de rua, talvez chamado de louco, me assusta no sinal ao gritar com todas as forças: “Mas Ele disse para amarmos uns aos outros...”. Uma chuvinha fina me faz fechar o vidro do carro... Sinal verde.    Sim, Ele disse. Paz em 2021!

Reflexões sobre o riso, o sorriso e a dor*

Após tanta massificação e influência de ideias herdadas do século passado e em atividade nos tempos atuais, não toleramos mais a velha postura chamada autenticidade. Talvez essa “qualidade” seja a maior mentira e ilusão do ser humano nos últimos tempos. Poderíamos dizer, ironicamente, que a autenticidade congela o sentimento, as reações espontâneas e tenta eleger regras para posicionamentos que justifiquem as atitudes - ou a falta delas. Alguns dizem que é melhor rir daquilo que fizemos e nos arrependemos. Ou: “é melhor rir do que chorar – viver a vida com leveza”. Sempre penso no motivo do riso em nossa vida. O choro seria o lado avesso do riso? Não sei. Às vezes acho os dois tão semelhantes... Um deles regado por lágrimas. Historicamente há tanta polêmica sobre o riso, que isso forçou o sorriso a separar-se da graça. Antes, uma namorada em sinal de aceitação, após um flerte, sorria - ria sem ruído -. O bebê sorri. Demonstra compreensão dos desejos alheios de contentamento. A menina e

O palco

Existe nele uma solidão amparada por várias pessoas que nos observam com olhares atentos, envolvidos por uma aura de prazer. Existe nele uma cumplicidade que transcende os limites da amizade e do querer que tudo dê certo. No palco e na plateia, todos buscam a realização plena.  Uma troca de energia... Ali, quando há um grande acerto, os olhares aprovadores são solidários e estampados em sorrisos ternos. Quando ocorrem pequenos deslizes, os mesmos olhares sorriem esperançosos, nos levando à crença de que é possível melhorar sempre. Que existem erros quando buscamos ser melhores. Nos momentos em que a energia da música extravasa o fazer, explodindo em grandes feitos musicais, uma onda de alegria e até mesmo de riso invade o palco e a plateia, levando-nos a uma catarse coletiva de purificação. Quando a emoção atinge seu extremo, em notas e acordes, e nos desperta da vida para o sonho, irrompe um turbilhão de aplausos. Aí, meus amigos, resta apenas crer que o sonho e a realidade se mistura

Cultura – Um “trem” descarrilhado

Enquanto dados dos últimos anos apontam para a importância e crescimento das Indústrias Criativas e Culturais para a economia, gerando milhões de empregos diretos e indiretos em todo o mundo, principalmente no Brasil, assistimos ao espetáculo de um trem descarrilhado nos levando ao abismo cultural. Se olharmos para a cadeia produtiva em Minas Gerais, veremos técnicos, estúdios, músicos, produtores e tantos outros representantes da área cultural com passagens pagas, em primeira classe, pelos órgãos político/culturais, embarcando, nos últimos anos, na “Barca do Inferno” com destino ao desprezo desses mesmos órgãos (in)competentes. Se recorrermos aos números e estudos comparativos, certificaremos uma queda de aproximadamente 60% nos valores operados nos últimos vinte anos no setor musical independente. Nesse ínterim assistimos à burocratização das leis de incentivo fiscal nas esferas municipal, estadual e, recentemente, o desmonte da lei federal, além de grande desestímulo da classe empre

A difícil arte de festejar a vida...

  “Solidão é independência. Com ela eu sempre sonhara e a obtivera afinal, após tantos anos.” ( Hermann Hesse) Estamos preparados para a liberdade, viver respeitando tudo, todos e aceitando as exigências do ser livre? Talvez... Desde que nascemos somos, aos poucos, formatados de acordo com os padrões estabelecidos e considerados corretos. Nossos pais, dentro de suas possibilidades, nos ensinam aquilo em que acreditaram um dia. Assim vamos construindo o que consideramos correto. Desde criança ouço falar de alguns temas que fui, aos poucos, concordando ou discordando no mover da vida. Hoje meus conceitos são, às vezes, claros. Mas sigo como observador. Percebendo novos valores que surgem e se tornam parâmetro para a vida, enquanto outros não passam de sugestões de comportamento que se evaporam ou metamorfoseiam (que palavra), dando lugar a novos modelos. Abaixo, enumero alguns que considero pelo menos engraçados...   Dormir  - Sempre ouvi dizer que oito horas de sono, no mínimo, por noit

Imprevisíveis encontros...

Em um dia ensolarado, enquanto nos acomodávamos em um restaurante para um almoço após uma longa manhã de reuniões, ele, subitamente, me disse: “- Por que não fazemos música juntos?” Olhei-o, pensei e, após uma eternidade de dois segundos, disse que ia procurar alguns temas que mantinha guardados. Mentira. Não havia nenhum tema composto. O espaço fictício que eles ocupavam, cedeu lugar à urgência de ter algo para enviar para ele. Teria dias de muito trabalho pela frente...   A noite era boa, quente. Como a maioria das noites no Rio de Janeiro. Em volta da mesa, pessoas que acabara de conhecer me causavam um bem-estar silencioso, desembaraçado e, mineiramente, observador. Brindes, risos e novas histórias invadindo o pensamento enquanto inquietas cervejas se despediam de sua origem, acariciadas por minhas mãos, saciando minha boca ansiosa de seu frescor. Me levando à compreensão da beleza do encontro e dos desígnios traçados pelas escolhas que fiz quando, aos sete anos de idade, adormeci