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Contrários

- Não são do bem nem do mal. São facções opostas. Foi assim que meu filho respondeu à minha pergunta sobre os personagens de um joguinho eletrônico. Após dizer-lhe que a resposta era sábia, sem que ele desse qualquer  importância à minha opinião, seguimos jogando. Ou melhor, ele jogando e eu o observando. Sou péssimo nesse item. Hoje, após abrir os olhos pela manhã, lembrei-me de nossa conversa. Depois de perambular por muitas hipóteses em busca de compreensão desse mundo estranho, onde amigos se digladiam e acreditam em opiniões (verdades)  apresentadas pela via escrita, justificando agressões nomeadas de “discussão saudável e necessária”, finalmente me veio a revelação que eu buscava. Já suspeitava, mas dita de forma metafórica, tendo como roteiro elipses da vida, fica tudo mais simples. Ditas com naturalidade, por uma criança, dando a devida importância: posicionamento. Em minha mente desfilaram várias frases que presenciei, li ou ouvi ao longo da vida e que são atribuídas, n

Lá fora...

"As coisas assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas".* Saí lá fora e caminhei lentamente, a esmo. As damas da noite me assediando e me envolvendo. Olhei-me nos olhos e refleti, no espelho de   minha alma, o sentido de tudo em movimento. Na mistura de circunstâncias que é a vida, fui ingênuo, romântico... Talvez dramático também.  Lentamente, evaporou de minha mente todas as tristezas,   males e frustrações que sombreavam meus dias. Tudo junto, me abandonando. O ar quente da noite, se tornando fresco. Incompreensão se convertendo em compreensão. Cegos enxergando e aleijados correndo felizes pelas ruas. Portas se abriram e, delas, os mortos ressurgiram. Com um grande salto comecei a voar. Enquanto isso, meus cabelos ondulavam sob uma leve brisa e as damas da noite, inquietas, me afagando o coração. Abri os olhos e virei-me para a janela semiaberta. Um vento suave inundava a madrugada daquele quarto. Vire

A paz...

Aviões de guerra bombardeavam a cidade.  Alguém me cedeu uma arma que mais parecia um brinquedo quebrado. Tentando descobrir uma forma de maneja-la, enquanto me protegia, eu corria de um lado para o outro, entrando em canais de esgoto e mantendo sob minha mira, todos que encontrava.  Parecia um filme, mas havia certa carga de realismo e um tipo de medo que me movia e ao mesmo tempo me fazia refém do acaso. Viver ou morrer lutando, sem me preocupar com a diferença entre ambos. Em alguns momentos tudo me parecia brincadeira. Daquelas da infância... Acordei em uma cidade da Bolívia. Da janela eu via parte de uma linda praça em frente à Igreja de São Francisco. Na noite anterior, apesar do frio, estivera ali observando inúmeras pessoas enquanto pensava no Santo de Assis. Quanta bondade e coragem ao mudar a direção de sua existência! Imaginei como deve ser difícil se destacar entre as pessoas simples, tendo como escudo a simplicidade. Ser considerado santo somente por aqueles que se desp

Nós, os outros...

Os meses avançando lentamente… As noites longas e os dias fatigantes. Os ponteiros do relógio se tornando preguiçosos. Como no avançar da madrugada, quando mirados por olhos despertos. Aqueles dois olhos, sem cor, me espreitavam com alguma curiosidade. Talvez… Imaginei os faróis que iluminariam a beleza que se apresentaria com o tempo. Seria um guia cuidadoso. Daria a direção e teria a paciência que deixa o despertar se anunciar naturalmente. Como o criador, no dia da criação, quisera ter olhos para presenciar a percepção que se elabora no vazio do saber. No denominar das coisas que primeiro sentimos. Nas belezas que existem antes de terem nomes. O céu da alma, as nuvens das formas e das sombras… A lua decorando o sonho. E o tempo passando. As estrelas dando brilho à longa noite e prenunciando a madrugada… o dia. E a vida passando, seguindo… E tudo mudando. Os olhos ganhando cor. E todas as coisas… Ganhando nomes. A vida e os sonhos vivendo outras experiências. Outros camin

Dias nublados...

O domingo amanheceu nublado. Lentamente o céu começou a chorar uma chuvinha fresca e mansa. Embalando o romantismo, o sonho, o sossego e a paz. Talvez a dor e a tristeza... A rua molhada, o carro avançando… Buscara-o na sexta-feira, depois da meia noite, com muita saudade e desejo de passar algum tempo conversando e olhando para ele… Em princípio, um pouco triste, me deu um abraço diferente. Daqueles que nos consolam quando sentimos saudade de algo que não lembramos, mas sabemos que existe em algum lugar do tempo de nossa nossa alma. O carro avançando… Disse-me que uma vida se extinguia e isso o entristecia. Ve-lo assim, também me entristeceu. Tomado por um desejo de ajudá-lo, enquanto dirigia o automóvel na noite, falei que a vida tem que ser bem vivida. Moldada com caráter e bons pensamentos. Que não podíamos simplesmente vê-la passando. Que nossas ações eram importantes, pois não viveríamos eternamente, nesse mundo. Interrompendo seu olhar para o nada, me disse: - Você sa

Naturalidade...

Naturalidade... Sempre nos referimos a esse termo quando suspeitamos de anormalidade em qualquer setor da vida e buscamos a compreensão ou explicação para aquilo que vislumbramos como algo correto. Quantas vezes dizemos que não achamos algo natural? Mas viver naturalmente nos custa tão caro... Algumas circunstâncias nos confundem e as  dúvidas permanecem sempre as mesmas. Às vezes recorro aos poetas, escritores e filósofos. Mas suspeito deles também. As palavras escritas são bonitas, pensadas e têm um grande poder de persuasão. Mas são registradas após o sentimento, em um momento de lembranças das experiências vividas in loco ou simplesmente intuídas com certo romantismo. Mesmo contendo muita sabedoria e verdade, elas desconsideram que, ao nascer, nos expomos a toda sorte de possibilidades na vida. Situações em que perder ou ganhar fazem parte de uma engrenagem que pode nos beneficiar da mesma forma. Direta ou indiretamente. Alguns dizem que ganhar é melhor. Concordo e me agrada o p

Sonhos graciosos - Encontros

O acaso nos leva para onde quer e como quer... De repente nos deparamos com algo inesperado. Detalhes sutis que nos arrastam para outros pensamentos, que nos conduzem às conclusões sobre a vida que, às vezes difícil, nos remete ao sonho como única saída e possibilidade para aceitar a realidade. Nem sempre como gostaríamos. Apenas aquela possível. Olhava as luzes de um restaurante em frente, imaginando quantos assuntos e pensamentos diferentes, simultaneamente, tentavam, naquele instante,  se fazer entender. As pessoas gesticulando e falando alto. Somente se ouvia um som indefinido de muitas falas. Na rua, carros passando e contribuindo. Reforçando o som do mundo. O som do mundo experimentado nas grandes cidades. Em minha mesa a fala era mansa, em volume adequado às conversas tranquilas, revigorante por sua natureza espontânea e descompromissada. À minha frente duas luzes suaves iluminando a noite que chegava com o frescor de um hálito que contrariava o calor da tarde. Tudo era inusi

Ciranda

Pensei nos chamados “Parques de diversão”, de minha infância. Simples, empoeirados… Mas que me deixavam empolgado e feliz com suas “canoinhas”, principalmente. Cordinhas puxadas em sentido contrário e duas crianças se auxiliando com toda a força dos braços, para alçar grandes voos. Havia também um cheiro de pipoca e uma música que minha memória não quis guardar. Esqueceu.  Veio-me também à memória, a lembrança do palhaço nos circos. Verdadeiro artista, esse sempre foi o meu ídolo. Ficava sempre curioso para conhecer o rosto por trás da pintura e durante muitos anos alimentei em minha alma infantil a possibilidade de ser como ele. Um dia, junto com meu filho, aventurei-me nessa jornada. Rompi as amarras e encarei o que, depois, entendi ser o melhor momento de minha vida. É que meu companheiro de travessuras acreditava piamente na veracidade desse sonhador e me deu o suporte necessário para a conquista máxima da vida. O desprendimento e a liberdade de ser o que se é naturalmente. C

Respostas...

Assistindo a um filme*, resolvi escrever sobre uma frase intrigante, do protagonista: “Só há quatro perguntas de valor na vida”. O que é sagrado? Embora vivamos presos a conceitos e preceitos, principalmente religiosos, transmitidos por nossos antepassados, quando nos abrimos para a vida aceitando os desafios com um olhar imparcial e desprovido de preconceito, nos deparamos com nosso Eu verdadeiro. Onde reside a verdade, segundo Santo Agostinho. Não a que mostramos no dia a dia para aqueles que convivem conosco, mas aquela que trazemos guardada no íntimo, onde convivem certezas e inseguranças. Onde nem sempre somos como aparentamos ou desejamos aparentar. Nessa investida, pouco a pouco, abandonamos o nosso eu periférico, aquele que é conhecido e esperado por todos. Esse sentimento puro nos conduz ao respeito profundo e natural por todos os seres e nos enleva e eleva  ao estado de consciência alterada. Tornando nossa jornada nesse mundo, um caminho de aprendizado. Não sabemos para o

Quantas vidas...

Após assistir “Balzac e a costureirinha chinesa”, pesquisando sobre o filme me deparei com essa frase atribuída a Honoré de Balzac: “É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música.”  Não sei o contexto em que foi escrita, mas, machismo à parte (ambos podem amar, ou tentar, por toda a vida), gostei da frase.  Pensei nas várias formas de amor e na possibilidade de uma vida bem vivida, seguindo fielmente nossos ideais amparados pelo respeito a todos que encontramos, sem a necessidade de muitos argumentos corroborando nossas atitudes. Alguns dando muitas voltas e outros caminhando em linha reta. Porém, todos com o mesmo objetivo…  Nesse eu quero crer: viver em paz experimentando cada momento, saboreando as coisas boas e aceitando as dificuldades com a cabeça erguida. Com honestidade, resignação e determinação. Respeito e espontaneidade exercitados no dia a dia, nos liberta